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Biblioteca Global de Medicinas Tradicionais da OMS em evento MTCI

A Biblioteca Global de Medicinas Tradicionais da Organização Mundial da Saúde (WHO TMGL, na sigla em inglês) foi apresentada por João Paulo Souza, diretor da BIREME, como parte da programação da Consulta Regional para Priorização de Pesquisa em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), realizada nos dias 11 e 12 de junho, em São Paulo. O evento foi organizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), por meio dos Departamentos de Sistemas e Serviços de Saúde (HSS) e Determinantes Sociais e Ambientais para a Equidade em Saúde (DHE), e de seu Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), junto com a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio de seu Centro Global de Medicina Tradicional (GTMC). O objetivo da apresentação foi contextualizar historicamente e apresentar o estágio atual de desenvolvimento da TMGL, de modo a promover um diálogo construtivo e colher comentários e sugestões de aprimoramento dos participantes.

Em sua apresentação, João Paulo Souza contextualizou a origem e os marcos políticos que impulsionaram a criação da TMGL, destacando a crescente valorização dos saberes tradicionais em fóruns internacionais, como as Cúpulas dos BRICS e do G20, ambas realizadas em 2023, na África do Sul e Índia, respectivamente. “A recomendação de fortalecimento das práticas tradicionais seguida de uma contribuição financeira voluntária do governo da Índia à OMS contribuíram para a consolidação do projeto”, situou João Paulo. A iniciativa passou, então, a ser desenvolvida em parceria com a BIREME, aproveitando a expertise acumulada pelo Centro na construção de bibliotecas digitais, com destaque para a BVS MTCI Américas, que aborda a mesma temática.

Atualmente em fase pré-beta, a TMGL vem sendo implementada em etapas até alcançar a versão 1.0, cujo lançamento está previsto para dezembro de 2025, a ser realizado durante a 2ª Cúpula Global de Medicinas Tradicionais da OMS, na Índia. A plataforma contempla um portal global, seis portais regionais e 194 páginas de países, além de uma série de coleções temáticas – como Ayurveda e Parteria Tradicional – e ferramentas especializadas como o “Traditional Index Medicus” (TIM), um índice integrado dos jornais e revistas científicas especializadas em MTCI. Com cerca de 1,7 milhão de documentos já integrados, a TMGL também oferecerá acesso a bases de dados, publicações científicas, repositórios digitais, mapas de evidências (desenvolvidos em colaboração com CABSIN e outros parceiros) e recursos de inteligência artificial voltados a ampliar o acesso de gestores, profissionais de saúde, praticantes de MTCI e a pessoas interessadas em temas relacionados à MTCI.

Um aspecto central da apresentação foi a abordagem metodológica participativa adotada pela equipe do projeto. Souza destacou o uso de ferramentas digitais e dinâmicas interativas para coleta de sugestões durante o evento, permitindo que os participantes contribuíssem diretamente com sua avaliação e observações orientadas ao aprimoramento da biblioteca. “Essa estratégia reafirma a visão da TMGL como uma plataforma viva, construída com base no diálogo com especialistas e usuários, e orientada por um compromisso de longo prazo, inspirado na trajetória de 27 anos da BVS”, afirmou o diretor. A imagem abaixo registra alguns dos participantes durante as atividades.

Com base nos aportes dos participantes, Mirelys Puerta Díaz, gestora do produto e ponto focal na BIREME para o desenvolvimento da TMGL, sintetizou as principais sugestões aportadas pelas discussões em grupo:

  • Inclusão e acessibilidade: ampliar os recursos de tradução e oferecer formatos acessíveis e materiais audiovisuais, com interfaces adaptadas culturalmente para públicos diversos, incluindo povos indígenas e usuários com deficiência.
  • Transparência e organização do conteúdo: estabelecer critérios claros de curadoria, categorização por sistemas médicos e autoria, e implementar filtros de busca avançada por tema, país e tipo de documento.
  • Governança e participação social: criar comitês editoriais representativos, mecanismos participativos de consulta e validação de conteúdo com stakeholders locais, além de espaços para construção colaborativa do conhecimento.
  • Valorização de saberes locais: promover a documentação de boas práticas, histórias de vida e experiências comunitárias em saúde tradicional, com ênfase na aplicação prática e impacto nas políticas públicas.
  • Sustentabilidade e Melhoria Técnica: aprimorar a experiência de navegação, garantir atualizações periódicas e desenvolver estratégias de financiamento e capacitação digital, especialmente voltadas a contextos de difícil acesso.

Díaz acrescenta que componentes de transparência já estão sendo incorporados no atual estágio de desenvolvimento do produto, por meio da abordagem ágil do framework Scrum, o que tem permitido entregas incrementais com foco contínuo em valor e centradas no interesse e experiência do usuário. “Com a adoção dessa metodologia de gestão, temos viabilizado respostas ágeis às necessidades emergentes, garantindo que a TMGL evolua de forma estruturada, com base em escuta ativa e co-criação com os usuários, especialistas em MTCI e stakeholders”, explicou Mirelys.

A Consulta Regional para Priorização de Pesquisa em MTCI nas Américas foi realizada no âmbito de uma iniciativa mais ampla da OMS, voltada a fortalecer práticas baseadas em evidências nas diversas regiões do mundo. O objetivo é promover uma integração mais efetiva dessas práticas aos sistemas de saúde, ancorando-as no diálogo intercultural. Nesse contexto, a TMGL se destaca como um dos principais pilares da estratégia, ao oferecer um ambiente digital robusto, inclusivo e sensível à pluralidade de saberes e às diferentes políticas relacionadas à saúde tradicional globalmente.

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Consulta Regional define prioridades de pesquisa em Medicina Tradicional

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), por meio dos Departamentos de Sistemas e Serviços de Saúde (HSS) e Determinantes Sociais e Ambientais para a Equidade em Saúde (DHE), e de seu Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), junto com a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio de seu Centro Global de Medicina Tradicional (GTMC), realizaram no Brasil, nos dias 11 e 12 de junho, a Consulta Regional para Priorização de Pesquisa em Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI). Com cerca de 50 participantes, o evento reuniu representantes de ministérios da saúde, especialistas internacionais, pesquisadores, lideranças e organizações indígenas de países das Américas, consolidando um espaço de debate sobre aspectos relacionados às prioridades para a pesquisa no campo das MTCI.

Esta consulta faz parte de uma série de exercícios que estão sendo realizados globalmente e foi estruturada em torno de apresentações de especialistas e uma série de debates guiados sobre cinco temas-chave. A metodologia foi coordenada por facilitadores da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS), que conduziram as atividades em grupo. Os participantes debateram sobre os principais desafios, condições de infraestrutura, tomada de decisões baseada em evidências, identificação de lacunas e formas de identificar e medir o sucesso de futuras agendas de pesquisa. Além disso, a programação incluiu a apresentação da Biblioteca Global de Medicinas Tradicionais da OMS, desenvolvida pela BIREME em colaboração com o Centro Global de Medicina Tradicional da OMS (WHO GTMC, na sigla em inglês), bem como atividades de integração cultural entre as equipes e os participantes.

A cerimônia de abertura contou com a presença de Gustavo Rosell de Almeida, assessor em Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS/OMS; Geetha Krishnan Pillai, chefe da Unidade de Pesquisa e Evidência do GTMC da OMS; João Paulo Souza, diretor da BIREME/OPAS/OMS; Daniel Amado, assessor técnico e gerente de projetos de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) do Ministério da Saúde do Brasil; e Ileana Fleitas, assessora em Medicamentos, Tecnologias e Pesquisa em Saúde, representando Cristian M. Fuhrimann, Representante da OPAS no Brasil.

Rosell de Almeida destacou a importância de contar com representantes dos países da Região para facilitar o intercâmbio de experiências e avançar em consensos sobre as prioridades de pesquisa em MTCI. Por sua vez, João Paulo Souza afirmou: “Este é um evento fundamental que acontece em São Paulo nesta semana. Nele, trabalhamos com representantes de diversos países, incluindo povos indígenas e originários de nossa região, Brasil e outros países das Américas, para abordar as prioridades de pesquisa no âmbito das medicinas tradicionais, complementares e integrativas. Isso é essencial, pois buscamos ampliar o acesso e melhorar a articulação das práticas tradicionais, complementares e integrativas com os sistemas nacionais de saúde. Isso se dá por meio da geração de novo conhecimento, o que aqui chamamos de pesquisa.”

Da mesma forma, Geetha Krishnan Pillai, do GTMC da OMS, reiterou o compromisso internacional com o tema: “Trabalhamos para criar evidências robustas e plataformas inclusivas que respeitem o valor intrínseco e a diversidade das medicinas tradicionais, apoiando sua integração com os sistemas de saúde. Para milhões de pessoas, a medicina tradicional é a primeira opção de cuidado, especialmente onde o acesso é limitado. Fortalecer a base de evidências e valorizar o conhecimento local amplia a autonomia das pessoas e torna o cuidado em saúde mais acessível, culturalmente relevante e sustentável.”

Durante os dois dias, foram debatidas as prioridades de pesquisa, a preservação e transmissão dos saberes tradicionais, aspectos regulatórios de infraestrutura e financiamento para a pesquisa em MTCI, o desenvolvimento de metodologias apropriadas e o fortalecimento de capacidades em comunidades indígenas, pesquisadores locais e provedores de cuidados em saúde. Nesse contexto, Kim Sungchol, chefe da Unidade de MTCI da OMS, realizou uma apresentação centrada na nova Estratégia Global para as Medicinas Tradicionais (2025–2034), na qual destacou: “Um dos principais desafios na pesquisa em medicinas tradicionais é a proteção e documentação dos saberes tradicionais, especialmente dos indígenas, garantindo o respeito aos direitos das comunidades e prevenindo a apropriação indevida.”

Por sua vez, Ileana Fleitas ressaltou a relevância do evento para a Região: “Para a OPAS, esta consulta global sobre pesquisa em medicina tradicional, realizada no Brasil, é de enorme importância. É fundamental garantir que este conhecimento ancestral ocupe o seu devido lugar nos sistemas de saúde, reconhecendo-o como um direito dos povos e fortalecendo a regulamentação e integração dessas práticas. O protagonismo do Brasil e a contribuição da BIREME, especialmente na criação da Biblioteca Global de Medicina Tradicional, demonstram como a região pode liderar avanços para valorizar o conhecimento tradicional em escala global.”

Os documentos de apoio ao evento estão disponíveis em espanhol, inglês e português e podem ser acessados na página online Consulta Regional sobre Priorização de Pesquisa em Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI) | BVS MTCI, desenvolvida pela BIREME/OPAS/OMS. Ali estão reunidas fontes de informação como o programa, imagens, vídeos e outros materiais, como parte das ações de gestão da informação e do conhecimento que apoiam o evento.

Contexto histórico

Priorizar a pesquisa sobre medicina tradicional faz parte de um esforço global da OMS para fortalecer o papel dessas práticas nos sistemas de saúde, em consonância com marcos como a Declaração de Alma-Ata (1978) e a Declaração de Astana (2018), que reconhecem seu valor no contexto da atenção primária à saúde (APS). Desde a publicação das Estratégias Globais sobre Medicina Tradicional (2002-2005 e 2014-2023), passando pela Declaração de Gujarat até a recém-aprovada Estratégia 2025–2032, a OMS tem promovido a articulação entre os conhecimentos tradicionais e a produção de evidências como ferramenta para avançar em direção a sistemas de saúde mais equitativos, resilientes e centrados nas pessoas.

Embora a base de evidências sobre medicina tradicional e complementar tenha se ampliado nas últimas décadas, ainda persistem desafios significativos, como a fragmentação da pesquisa e a ausência de diretrizes globais para traduzir o conhecimento em práticas seguras e eficazes. O processo de priorização realizado nas Américas e em outras regiões do mundo busca justamente superar essas barreiras, promovendo a construção coletiva de agendas de pesquisa alinhadas à diversidade cultural e às necessidades das pessoas e comunidades.

Nesse contexto, Rosell de Almeida enfatizou a importância do diálogo intercultural: “Fortalecer a atenção primária à saúde exige incorporar e articular os saberes das medicinas tradicionais, promovendo uma abordagem mais integral, centrada nas pessoas e não apenas nas doenças. Para isso, é fundamental manter o diálogo e valorizar as experiências dos povos indígenas, pesquisadores e gestores, construindo juntos melhores condições de saúde para todos”.

Como próximos passos, a OMS e a OPAS delinearam ações que incluem o estabelecimento de mecanismos para proteger os conhecimentos tradicionais, a elaboração de diretrizes para articular a medicina tradicional com os sistemas biomédicos e a formação de grupos de trabalho em nível regional. Nesse sentido, a OPAS desenvolverá um plano estratégico regional em diálogo com governos, especialistas, acadêmicos, comunidades e povos indígenas, cujos resultados preliminares serão apresentados na Cúpula Global sobre Medicina Tradicional, que será realizada em dezembro na Índia.

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Sobre as práticas integrativas e saúde indígena em São Paulo

Nos dias 10 e 13 de junho de 2025, representantes da Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizaram visita técnica a dois serviços municipais de saúde integrativa e indígena em São Paulo, com o objetivo de conhecer experiências inovadoras e dialogar sobre a Biblioteca Global de Medicina Tradicional, desenvolvida pela BIREME com o Centro Global de Medicina Tradicional da OMS (WHO GTMC, na sigla em inglês).

As visitas foram coordenadas pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS-SP), por meio da Área Técnica de Saúde Integrativa/PICS, sob liderança de Adalberto Kiochi Aguemi, diretor da Divisão de Promoção da Saúde. Pela OPAS e OMS, participaram Geetha Krishnan Pillai, coordenador de Pesquisa e Evidência do GTMC da OMS; João Paulo Souza, diretor do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME); e Daniel Gallego-Pérez, consultor no Departamento de Sistemas e Serviços de Saúde (HSS).

Centro de Referência em Práticas Integrativas e Complementares (CRPICS) Bosque da Saúde

No dia 10 de junho, a comitiva visitou o CRPICS Bosque da Saúde, na região sudeste da capital paulista. No encontro, as equipes da SMS-SP compartilharam experiências com o modelo de atenção integrada à saúde, implementado no contexto da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), e o Programa Municipal Qualidade de Vida com Medicinas Tradicionais e Práticas Integrativas em Saúde. Além de conhecer as instalações da unidade, foram apresentados os resultados, a estrutura e a abrangência da iniciativa, em curso desde 2001, com a oferta de 22 práticas como acupuntura, ioga, meditação, dança circular, auriculoterapia, entre outras.

Em destaque, a Terapia Comunitária Integrativa (TCI), modalidade orientada para a promoção da saúde e alívio do sofrimento mental, que é realizada em sessões de conversa em grupo mediadas por terapeuta comunitário treinado, e que é considerada uma prática original do Brasil. Outra inovação local é a oferta, desde 2016, do Programa de Residência Multiprofissional em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, o primeiro do país voltado à formação técnica de trabalhadores da saúde, com 5760 horas de aprendizado teórico e prático.

“É um orgulho imenso ver o Brasil como expoente e guardião de práticas ancestrais, preservando este celeiro de cuidado para as futuras gerações. Como formadora de profissionais de saúde, é emocionante perceber que novos médicos reconhecem, já durante a formação, a importância da complementaridade além da biomedicina. Práticas brasileiras, como capoeira, terapia comunitária e fitoterapia, despertam interesse internacional e mostram a força do Brasil em inovar e contribuir com soluções genuínas e humanizadoras para a saúde mundial. Em tempos tão desafiadores, oferecer tecnologias leves e profundamente enraizadas na nossa cultura tem um enorme valor para a saúde pública”, declarou Jussara Otaviano, enfermeira do Instituto Afinando Vidas e responsável pela formação de terapeutas comunitários.

UBS Indígena Aldeia Jaraguá Kwarãy Djekupé

No dia 13 de junho, a equipe visitou a Unidade Básica de Saúde Indígena Aldeia Jaraguá Kwarãy Djekupé, situada na Terra Indígena Jaraguá, zona norte de São Paulo, território que abriga cerca de 850 pessoas da etnia Guarani, distribuídas em sete comunidades. A unidade é referência na valorização do protagonismo indígena: dos 27 profissionais da Equipe Multidisciplinar de Atenção Básica à Saúde Indígena (EMSI), 18 são indígenas, atuando em funções que vão da gerência à assistência social, e incluindo agentes de saúde, enfermagem, agentes de saneamento, entre outras áreas técnicas e administrativas.

A recepção aos visitantes aconteceu na okã (casa de reza), espaço sagrado para os Guarani, que percebem a saúde de forma indissociada da espiritualidade e da preservação cultural. O acolhimento incluiu cânticos, danças e rituais tradicionais como o “tchondaro”, conduzidos por cerca de 20 integrantes da comunidade. Durante a visita, lideranças indígenas compartilharam suas perspectivas sobre o papel do serviço de saúde, a valorização de práticas tradicionais e demandas prioritárias, como o fortalecimento da saúde indígena, o reconhecimento institucional e a representatividade em fóruns nacionais e internacionais. Em um ambiente de intercâmbio e comunhão, a experiência foi encerrada com partilha de alimentos típicos preparados para a ocasião – “txipá” (pão frito servido com mel), milho e batata-doce cozidos, e chá de erva cidreira.

Para Adalberto Aguemi, a importância desta visita está justamente na aproximação com um centro relevante de documentação científica e na valorização da sistematização das medicinas tradicionais. “Conhecimento não é apenas o biomédico convencional; há um saber ancestral, transmitido oralmente por diversos povos, que precisamos fortalecer. Esta iniciativa global liderada pela BIREME e OMS é fundamental para preservar culturas ameaçadas, compartilhar práticas de promoção da saúde e criar instrumentos para enfrentar novos e históricos desafios”, afirmou, ao ressaltar os potenciais benefícios que esta visão ampliada de saúde, ciência e cuidados tem para as comunidades.

Saber local, relevância global

As visitas reforçam a importância de reconhecer, documentar e valorizar práticas de saúde que dialogam com saberes tradicionais e a diversidade cultural dos territórios. Para João Paulo Souza, diretor da BIREME, são experiências que ampliam o olhar sobre a saúde pública e inspiram soluções inovadoras e integrativas em escala global.

“As práticas de medicina indígena do povo guarani – que englobam a alimentação tradicional, o exercício físico, o uso de ervas medicinais da Mata Atlântica, além de práticas integrativas como as conversas matinais sobre os sonhos e uma cosmovisão voltada à convivência harmônica com o meio ambiente – têm contribuído para a saúde e o bem-viver das populações originárias no território que hoje corresponde ao estado de São Paulo há centenas de anos. Reconhecer e valorizar essas práticas, articulando-as com os serviços regulares de saúde, representa uma oportunidade de crescimento mútuo e fortalecimento intercultural”, destacou o diretor. A partir de uma solicitação de cooperação técnica, a BIREME buscará apoiar a codificação dessas práticas tradicionais nos sistemas de informação em saúde, bem como contribuir para sua visibilização e valorização no contexto da TMGL.

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Comitê Consultivo da BVS República Dominicana em operação

A República Dominicana deu um passo fundamental em sua trajetória de fortalecimento da produção científica nacional ao realizar, no dia 29 de maio de 2025, a primeira reunião do Comitê Consultivo da Biblioteca Virtual em Saúde do país, conhecida informalmente como “BVS-DOM”. O encontro ocorreu na sede da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS) em Santo Domingo, e contou com a participação de representantes de universidades, centros de documentação, sociedades médicas e órgãos do Ministério da Saúde Pública e Assistência Social (MISPAS) do país.

Marco para a informação em saúde

O objetivo central da reunião foi estabelecer as bases operacionais e estratégicas para o funcionamento conjunto dos Comitês Consultivo e Técnico da BVS-DOM, validando metodologias de trabalho, responsabilidades institucionais e os próximos passos para consolidação do portal como referência de acesso aberto à informação científica e técnica em saúde no país.

Segundo a Dra. Penélope Parra, da Divisão de Gestão do Conhecimento do MISPAS da República Dominicana, “a reativação da BVS-DOM responde à necessidade de termos uma rede nacional colaborativa, capaz de apoiar a tomada de decisão em saúde baseada em evidências fortalecendo a pesquisa científica do país e de toda a Região das Américas.”

A BVS-DOM adota um modelo de governança integrada, com a criação dos Comitês Consultivo e Técnico, contando com a atuação de uma rede de centros cooperantes. Os centros cooperantes são constituídos por instituições como universidades, institutos de pesquisa, sociedades científicas, associações profissionais, ministérios ou departamentos de saúde, editoras e outras instituições relacionadas, sejam elas governamentais, não governamentais ou privadas – que devem empregar a metodologia LILACS na gestão de seus produtos de informação científica e técnica.

Na reunião, o Comitê Técnico foi definido como responsável pela coordenação das ações técnicas operacionais, a partir da estruturação de três comissões principais. A primeira será dedicada à gestão do conteúdo do portal, assegurando a qualidade e atualização das informações disponibilizadas. A segunda comissão terá como foco o apoio e o monitoramento da capacitação contínua dos centros cooperantes, promovendo o desenvolvimento das competências necessárias para a gestão e utilização dos recursos da BVS-DOM. Por fim, a terceira comissão será responsável pela promoção dos conteúdos e pelo fortalecimento de alianças estratégicas, ampliando a visibilidade e o alcance da produção científica nacional.

Cooperação regional

O processo de reativação da BVS-DOM conta com o suporte técnico da BIREME/OPAS/OMS e de parceiros como o Instituto Tecnológico de Santo Domingo (INTEC), além do Ministério da Saúde da República Dominicana. A cooperação técnica foi reconhecida e valorizada durante a reunião do Comitê Consultivo. “Essa articulação fortalece a visibilidade da produção científica dominicana e aproxima o país das melhores práticas regionais de gestão da informação em saúde”, destacou Penélope Parra. Para Pedro López Puig, assessor de Sistemas e Serviços de Saúde da Representação da OPAS/OMS na República Dominicana, “O portal BVS na República Dominicana é já uma realidade institucionalizada, resultado do trabalho conjunto e do apoio da BIREME.”

Histórico

A trajetória da BVS-DOM remonta ao final dos anos 1980, quando, com o apoio da BIREME, foram lançadas as primeiras iniciativas para organizar e democratizar o acesso à informação científica em saúde no país. Entre 2001 e 2014, a BVS-DOM registrou avanços significativos, como o lançamento da primeira versão de seu portal, a digitalização de documentos oficiais e a incorporação de registros na base de dados LILACS. A partir de 2021, o Ministério da Saúde assumiu a liderança do processo para a reativação da BVS-DOM, culminando, em 2023, com a assinatura de um novo acordo interinstitucional.

Em 2025, a criação dos Comitês Consultivo e Técnico e a consolidação de uma rede nacional de Centros Cooperantes marcam uma nova etapa de desenvolvimento, conectando o país às melhores práticas regionais de gestão da informação e promovendo o acesso aberto à produção científica e técnica nacional.

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Cooperação técnica com países do Caribe fortalece informação em saúde

A atuação da BIREME/OPAS/OMS no Caribe esteve em destaque nas últimas semanas, consolidando a cooperação técnica com países da região em prol do fortalecimento dos sistemas de saúde e da ampliação do acesso à informação científica e técnica produzida pelos países da Região. Em foco, as atividades foram realizadas em junho em Curaçao e em maio, em Trindade e Tobago. Confira os detalhes.

Participação estratégica da BIREME no ACURIL 2025

No dia 4 de junho, a BIREME participou remotamente de uma pré-conferência ao evento anual realizado pela Associação de Bibliotecas Universitárias, de Pesquisas e Institucionais do Caribe (ACURIL, por sua sigla em inglês), realizado este ano em Curaçao. Márcia Barretto, Coordenadora de Infraestrutura de TI da BIREME, integrou a mesa redonda sobre Biblioteca Virtual em Saúde, dedicada ao tema “Aproveitando a literatura cinzenta para o fortalecer sistemas de saúde: uma abordagem colaborativa para combater doenças transmitidas por mosquitos no Caribe”, organizada em parceria com a Agência Caribenha de Saúde Pública (CARPHA).

O encontro virtual, presidido por Ayaana Alleyne Roberts, enfatizou a relevância da colaboração entre instituições regionais para enfrentar desafios comuns de saúde pública, como as doenças transmitidas por mosquitos. A contribuição técnica da BIREME foi reconhecida positivamente pelos organizadores, destacando a expertise do Centro no apoio à gestão e disseminação da informação científica e técnica em saúde.

Esta é a 54ª edição da Conferência da ACURIL, tradicional evento anual que reúne especialistas e profissionais das áreas de bibliotecas, museus e arquivos do Caribe. A programação de 2025 foi estruturada sob o tema “Humanidades Digitais: Conectando o Caribe através de Arquivos, Museus e Bibliotecas”, abrangendo tópicos críticos e contemporâneos em torno de quatro eixos temáticos principais: Preservação digital, Identidade e descolonização do patrimônio caribenho; Tecnologias inovadoras, engajamento público e tendências emergentes; Colaboração, educação e desenvolvimento de capacidades; e Sustentabilidade, resiliência e financiamento na Era Digital.

Oficina presencial de registros bibliográficos com a CARPHA

Entre os dias 27 e 29 de maio de 2025, a BIREME conduziu uma oficina presencial em Trinidad e Tobago, focada na capacitação de profissionais da região para o uso do FI-Admin, uma ferramenta desenvolvida pelo Centro para gestão de bases bibliográficas. A atividade foi coordenada por Márcia Barretto como parte da iniciativa apoiada pela União Europeia, no âmbito do Programa de Apoio ao Fortalecimento dos Sistemas de Saúde para a Prevenção e Resposta a Surtos de Zika e Outras Doenças Transmitidas por Mosquitos no Caribe, cuja agência executora é a CARPHA.

O treinamento reuniu 25 participantes de oito países membros da CARPHA: Anguilla, Antígua, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Cayman, Dominica, Granada, Santa Lúcia e São Vicente; além de profissionais de Trinidad e Tobago da Universidade das Índias Ocidentais, do College of Science, Technology and Applied Arts of Trinidad and Tobago (COSTAATT) e da Autoridade do Sistema Nacional de Bibliotecas e Informação (NALIS). Durante três dias, the participantes foram capacitados em temas como gestão e classificação de registros bibliográficos, uso de vocabulários controlados (DeCS), interoperabilidade de dados e melhores práticas na curadoria da informação.

Esta iniciativa faz parte de uma estratégia mais ampla para aprimorar a qualidade e a quantidade dos registros bibliográficos regionais, fortalecendo assim o acervo da base de dados MedCarib, um repositório fundamental da literatura em saúde do Caribe.

A missão de Marcia Barretto ao país incluiu ainda uma visita oficial ao escritório da Representação da OPAS/OMS em Trinidad e Tobago (PAHO/WHO TTO), onde se reuniu com Shellon Bovell, Assessora de Serviços e Sistemas de Saúde (HSS) e Representante Interina, e Ayaana Alexander, ponto focal de HSS para a BIREME, para tratar do desenvolvimento e manutenção de produtos e serviços de informação para o país.

Articulação e próximos passos

Além da capacitação, a missão da BIREME em Trinidad e Tobago incluiu reuniões com a equipe da OPAS/OMS no país para alinhar estratégias voltadas ao desenvolvimento e manutenção de produtos e serviços de informação de interesse nacional, como o aplicativo e-BlueInfo e novas soluções para tomada de decisão baseada em evidências.

Entre as recomendações do encontro, destacam-se a ampliação do uso do FI-Admin entre os Estados Membros da CARPHA, o fortalecimento da rede MedCarib e a atualização do portal Carpha EvIDeNCe, com ênfase no compartilhamento de informações sobre Zika e outras doenças transmitidas por mosquitos.

Compromisso com a informação para ação em saúde

O Caribe representa uma região estratégica para a OPAS e a BIREME, considerando as particularidades epidemiológicas e os desafios em saúde pública, sobretudo relacionados a doenças transmitidas por mosquitos, como Zika, dengue e chikungunya. A OPAS e a BIREME têm avançado em sua missão de fortalecer a capacidade dos países do Caribe e da América Latina em resposta a esses desafios, por meio de capacitações técnicas, promoção da cooperação regional e desenvolvimento de soluções inovadoras em gestão de informação e evidências científicas. Esse compromisso é fundamental para assegurar respostas rápidas e eficazes às ameaças emergentes de saúde pública, contribuindo para a segurança sanitária e a melhoria da qualidade de vida das populações da região.

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Dia Mundial sem Tabaco 2025 com Vitrine do Conhecimento

No dia 31 de maio de 2025, celebra-se o Dia Mundial sem Tabaco, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, neste ano, adota o tema “Desmascarando a indústria do tabaco: expondo as táticas das empresas para deixar os produtos de tabaco e nicotina mais atrativos”. A campanha visa revelar as estratégias utilizadas por estas indústrias para tornar seus produtos mais atraentes, especialmente para os jovens, e promover políticas públicas que reduzam a demanda por estes produtos.

Estratégias da indústria e o impacto na juventude

A indústria do tabaco e da nicotina tem adotado diversas táticas para atrair novos consumidores, como o uso de aromatizantes, design de produtos e embalagens chamativas, além de campanhas de marketing direcionadas. Estas estratégias têm sido particularmente eficazes entre os jovens, contribuindo para o aumento do consumo de produtos como cigarros eletrônicos e dispositivos de tabaco aquecido.

Segundo dados da OMS, estima-se que 37 milhões de crianças entre 13 e 15 anos utilizem produtos de tabaco em todo o mundo. Em muitos países, a taxa de uso de cigarros eletrônicos entre os jovens supera a dos adultos. Estes produtos são altamente viciantes e projetados para manter os usuários em um ciclo de dependência.

Objetivos da campanha de 2025

A campanha do Dia Mundial sem Tabaco 2025 busca:

  • Aumentar a conscientização sobre as táticas da indústria para tornar os produtos de tabaco e nicotina mais atraentes.
  • Promover mudanças nas políticas públicas, como a proibição de aromatizantes e aditivos, restrições à publicidade e regulamentação do design de produtos e embalagens.
  • Reduzir a demanda por estes produtos, especialmente entre os jovens, diminuindo sua exposição e consumo.

Recursos de informação da BIREME

A BIREME, comprometida com a disseminação de informação confiável em saúde, disponibiliza a Vitrine do Conhecimento sobre Tabagismo na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Esta vitrine reúne documentos técnicos, evidências científicas e materiais de orientação relacionados ao tema, servindo como recurso valioso para profissionais de saúde, gestores e o público em geral.

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Super Resumos da coleção Fronteiras Digitais

Diante do volume crescente de produção científica, identificar de forma rápida e precisa o que é mais relevante tornou-se um dos principais desafios para pesquisadores, profissionais e gestores da saúde. Atenta a esta necessidade, a BIREME/OPAS/OMS desenvolveu os Super Resumos — uma solução baseada em inteligência artificial (IA) que sintetiza artigos científicos e outros textos em poucas palavras, destacando seus principais achados e facilitando o uso da evidência na tomada de decisão.

A seguir, encontra-se informação sobre como a tecnologia foi implementada, os impactos esperados e os principais aprendizados no processo de criação da ferramenta.

Os Super Resumos são uma solução desenvolvida pela BIREME para disseminar a informação científica de forma mais acessível e rápida. Ele é gerado a partir do resumo (abstract) original de textos científicos, mas de forma muito mais sintética, com cerca de 30 a 60 palavras, e destaca os principais pontos do conteúdo original. O objetivo é facilitar o acesso à informação em saúde, principalmente para pesquisadores, profissionais e gestores que precisam de agilidade para tomar decisões. Ele não substitui o artigo, mas serve como um direcionador do olhar do leitor para o que é mais relevante.

A base tecnológica dos Super Resumos é um modelo de linguagem de grande escala, o Llama 3B, que possui cerca de três bilhões de parâmetros. É uma versão reduzida e especializada, ou seja, fine-tuned para o contexto permitindo rodar o sistema nos próprios servidores da BIREME, o que é importante para manter o custo do projeto viável. Foi utilizada a engenharia de prompts para garantir que os resumos sejam objetivos e respeitem critérios de tamanho e precisão. Além disso, foi ajustada a “temperatura” do modelo, que é um parâmetro técnico que controla o nível de criatividade, para evitar as chamadas “alucinações” do modelo e manter as respostas no contexto adequado.

Os Super Resumos já estão disponíveis para os registros da base Mosaico, na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Estão sendo processados os dados em lotes, então todos os dias mais artigos recebem esta versão da funcionalidade e podem ser conferidos na forma “super resumida”. O sistema funciona de forma automatizada: ele recebe o identificador do artigo e o resumo original, e a partir daí gera o Super Resumo e o devolve para a base. Aqui há um potencial para ampliar muito o alcance da ferramenta e facilitar a vida do usuário que precisa encontrar evidência científica de forma rápida e segura.

Francisco Barbosa Júnior, Especialista de IA na Gerência de Desenvolvimento da BIREME (DEV), que contribuiu com este texto, ressaltou alguns dos desafios enfrentados:

“O primeiro grande desafio foi adaptar um modelo de linguagem para rodar na infraestrutura digital disponível na BIREME. Também precisávamos garantir a qualidade científica dos resumos — e este foi um ponto crítico. LLMs, por natureza, têm o risco de “alucinar”, ou seja, inventar informação. Por isso, investimos bastante em fine-tuning e engenharia de prompts. Outro desafio foi garantir a sustentabilidade do produto. Inovar é ótimo, mas é essencial que a solução se mantenha viável no tempo. Por isso, o Super Resumo é um projeto em constante evolução — a BIREME segue buscando formas de torná-lo mais rápido e eficiente.”

Fronteiras Digitais na BIREME

A criação dos Super Resumos reflete o compromisso da BIREME com a inovação responsável e com a incorporação de tecnologias avançadas ao serviço da informação científica em saúde. Inserida na área transversal de Fronteiras Digitais, esta iniciativa representa um exemplo concreto de como a transformação digital pode ser aplicada de forma prática e sustentável para ampliar o acesso e a utilização de evidências na tomada de decisão em saúde.

João Paulo Souza, Diretor da BIREME, ressalta: “A transformação digital é um fenômeno global, acelerado e profundo, que impacta todos os aspectos da experiência humana. Ela tem como eixo central uma mudança cultural que nos conduz a um mundo moldado por interações digitais, impulsionado pela inovação e pela incorporação de tecnologias avançadas. Na BIREME, temos trabalhado para manter nossos produtos na vanguarda desta fronteira digital, com o objetivo de ampliar o acesso e o uso da informação científica e técnica em saúde, promovendo o bem-estar da população.”

Os Super Resumos, e outros produtos de fronteira digital (assim como o DeCS Finder IA) já estão disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde.

 

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Avanços de IA nos Produtos e Serviços da BIREME – Boletim BIREME/OPAS/OMS

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Fonte: https://boletin.bireme.org/pt/2025/05/30/super-resumos-da-colecao-fronteiras-digitais/

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Evidências científicas, ferramentas e práticas para fortalecer a APS

De 1 a 3 de maio de 2025, em Teresina, no Piauí aconteceu a sétima edição do Congresso Internacional de Atenção Primária à Saúde (VII CIAPS), reunindo mais de 1200 participantes entre gestores, trabalhadores e pesquisadores, em torno do tema “Ferramentas inovadoras para qualificação da Atenção Primária à Saúde (APS) e redução da mortalidade materna”. Organizado pelo Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Permanente em Saúde da Universidade Federal do Piauí (NUEPES/UFPI), o evento vem se consolidando como espaço estratégico para o fortalecimento das políticas de proteção à saúde materna na Atenção Primária.

A conferência magna de abertura foi proferida por João Paulo Souza, Diretor da BIREME/OPAS/OMS, com o título “Fortalecimento da APS: Inovações e o Caso da Saúde Materna”. O diretor abordou a transformação digital, a decisão baseada em evidências e os “super determinantes da saúde” como eixos estruturantes para a redução da mortalidade e a qualificação do cuidado. Com foco no apoio à tomada de decisão em saúde, sua fala ressaltou a função estratégica das soluções desenvolvidas pela BIREME para organizar e disseminar evidências científicas, ampliando o acesso ao conhecimento nos países da Região das Américas. Este papel constitui um atributo essencial da cooperação técnica promovida pelo Centro.

Destaques da programação

A BIREME teve participação destacada no congresso. Verônica Abdala, Gerente de Produtos e Serviços de Informação (PSI), liderou uma oficina técnica de seis horas sobre a metodologia de construção dos Mapas de Evidências. A atividade contou com aproximadamente 30 participantes e apresentou o modelo sistematizado para o mapeamento, seleção, avaliação e categorização de evidências científicas aplicadas à saúde pública, com foco nas necessidades de informação no contexto da APS.

Durante a sessão de encerramento, Verônica Abdala apresentou a Declaração de Teresina para Redução da Mortalidade Materna, proposta pela coordenação do evento em homenagem à professora Lis Marinho coordenadora geral do VII CIAPS. O documento propõe a criação da RedeLIS, iniciativa colaborativa dedicada ao enfrentamento da mortalidade materna no Piauí e em outras regiões. Para Verônica, o CIAPS representa um espaço estratégico de interação, intercâmbio de experiências e aprendizado contínuo, essencial para conectar diferentes contextos da saúde pública. “As evidências são globais, mas a saúde é local, é nas pessoas”, destacou.

Outro destaque foi a apresentação de Bremen Mucio, ex- Assessor Regional em Saúde Sexual e Reprodutiva da OPAS, sobre o Sistema de Informação Perinatal (SIP), desenvolvido pelo Centro Latino-Americano de Perinatologia, Saúde da Mulher e Reprodutiva (CLAP/SMR/OPAS/OMS). A ferramenta foi apresentada como experiência exitosa para a monitorização clínica e capacitação de trabalhadores da APS para o atendimento de gestantes e recém-nascidos.

Foto: Divulgação UFPI.

Cooperação técnica em pauta

Durante a missão em Teresina, a equipe da BIREME também participou de uma série de reuniões bilaterais com instituições nacionais e regionais, fortalecendo articulações estratégicas voltadas à cooperação técnica em saúde digital, medicina tradicional e práticas integrativas, cuidado domiciliar e saúde indígena. As conversas sinalizaram oportunidades de ampliação da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e da integração de novas plataformas temáticas e redes colaborativas ao ecossistema de informação da BIREME.

Na avaliação do diretor João Paulo Souza, a presença da BIREME no CIAPS reafirma o compromisso com a democratização da informação científica, o fortalecimento das capacidades locais e o apoio à tomada de decisão baseada em evidências, pilares essenciais para a equidade em saúde. “Parabenizo a organização do CIAPS por promover um espaço inspirador e transformador. Que os diálogos iniciados em Teresina continuem reverberando em ações concretas e duradouras”, ressaltou.

Fonte: https://boletin.bireme.org/pt/2025/05/30/__trashed/

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Em desenvolvimento a Plataforma SUS Digital

Em 7 de maio de 2025, a BIREME realizou reunião interna de lançamento do projeto da Plataforma SUS Digital. O encontro marcou o início oficial do cronograma de desenvolvimento e teve como objetivo iniciar a implementação das atividades de consenso durante o processo de cocriação com a Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI) do Ministério da Saúde (MS), e compartilhar diretrizes e alinhar as próximas etapas com as equipes envolvidas.

O projeto está no contexto do Termo Aditivo 1 ao Termo de Cooperação 157 (TA1/TC157) entre a OPAS Brasil e a SEIDIGI/MS e que conta com a participação da BIREME no desenvolvimento da Plataforma SUS Digital.

Plataforma SUS Digital: uma resposta integrada às demandas da saúde digital

Instituído pela Portaria GM/MS nº 3.232, de 1º de março de 2024, o Programa SUS Digital visa ampliar o acesso da população aos serviços e ações de saúde por meio de soluções tecnológicas digitais. Com foco em inovação e equidade, o Programa tem a missão de conectar cidadãos ao Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as etapas do atendimento, além de prover informação essencial para o acesso a cuidados integrais.

Com todos os estados, municípios e o Distrito Federal já tendo aderido à iniciativa, a plataforma que está sendo desenvolvida pela BIREME atuará como um ponto centralizador de informação, produtos, serviços e iniciativas relacionadas à transformação digital do SUS. Seu objetivo é facilitar o acesso à informação por parte de cidadãos, profissionais e gestores da saúde, promovendo a eficiência e a integração entre os diferentes usuários e instâncias do sistema.

A plataforma reunirá todo o conteúdo produzido pelo programa em um repositório estruturado, facilitando sua visibilidade e uso estratégico, ressaltou Verônica Abdala, gerente de Produtos e Serviços de Informação (PSI) da BIREME/OPAS/OMS. Entre os recursos previstos estão: serviço de busca integrada, seções editoriais temáticas, espaços dedicados a públicos distintos, e a integração de produtos como a Rede Brasileira de Telessaúde, Segunda Opinião Formativa (SOF) e Ajudas Decisionais. Também estão previstos conteúdos interativos, como relatos de experiências e depoimentos reunidos na seção Vozes do SUS Digital.

Etapas do projeto e abordagem colaborativa

A proposta foi construída de forma colaborativa pelas equipes da SEIDIGI/MS e da BIREME cujo desenvolvimento se caracteriza por quatro fases:

  • Fase 1: desenvolvimento de protótipos e arquitetura da informação
  • Fase 2: versão alpha da plataforma e capacitação de equipes
  • Fase 3: versão beta com testes de usabilidade e versão em inglês
  • Fase 4: operação regular e estratégias de sustentabilidade da plataforma

Durante a reunião de lançamento, Verônica Abdala (PSI) destacou que o projeto é fruto de um processo intenso de cocriação com a SEIDIGI, incluindo a elaboração de um protótipo de baixa fidelidade previamente aprovado, que já está incorporado como marco inicial do desenvolvimento. “A expectativa é que a nova plataforma funcione como um verdadeiro hub digital do Programa SUS Digital, promovendo um ecossistema de saúde digital mais conectado, acessível e documentado, com foco na usabilidade, navegabilidade e acesso aberto à informação em saúde pública”, ressaltou.

O mapeamento de conteúdo, público-alvo e funcionalidades da plataforma foram definidos durante uma oficina de ideação e cocriação, realizada com integrantes da SEIDIG/MS e da BIREME, em São Paulo, na Sede da BIREME, em 16 de janeiro de 2025.

 

Saiba mais:

Transformação digital do SUS: BIREME apoia desenvolvimentos – Boletim BIREME/OPAS/OMS

Fonte: https://boletin.bireme.org/pt/2025/05/30/em-desenvolvimento-a-plataforma-sus-digital/

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TMGL e BVS MTCI no Relatório Anual do GTMC/OMS

A Divisão de Cobertura Universal de Saúde e Ciclo de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS) coordenou a publicação do relatório anual do Centro Global de Medicina Tradicional da OMS (GTMC, por sus sigla em inglês), publicado em 23 de maio de 2025, e disponível online, em inglês (clique aqui para acessar). O documento inclui seus principais resultados agrupados em: (1) Liderança e engajamento político; (2) Cúpula Global de Medicina Tradicional; (3) Pesquisa e evidências; (4) Atenção primária à saúde e cobertura universal de saúde; (5) Conhecimento indígena e biodiversidade; (6) Aplicações de saúde digital; (7) Coordenação entre a OMS e o Governo da Índia; e (8) Recursos humanos, orçamento e financiamento.

A colaboração dos Escritórios Regionais da OMS também é considerada uma realização regional, e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que também atua como Escritório Regional da OMS para as Américas, compartilhou suas atividades de cooperação técnica. O Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME) compartilhou os avanços da Biblioteca Global de Medicina Tradicional da OMS (TMGL, por sua sigla em inglês), destacando seu papel estratégico na tomada de decisões informadas por evidências, priorização de pesquisas e integração do conhecimento em Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI) nos sistemas de saúde em todo o mundo.

TMGL: Biblioteca Global de Medicina Tradicional da OMS

A TMGL da OMS, atualmente em sua versão Beta (v.02), é uma iniciativa digital colaborativa desenvolvida pela BIREME em parceria com o GTMC da OMS. Projetada para fornecer acesso global ao conhecimento em MTCI, a TMGL atende pesquisadores, provedores de cuidados, formuladores de políticas e o público em geral, por meio da indexação, arquivamento e facilitação do acesso a uma variedade de recursos relacionados à MTCI.

Aprovada pela 78ª Assembleia Mundial da Saúde em 26 de maio de 2025, a nova “Estratégia Global da OMS sobre Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas 2025-2034” direciona a comunidade internacional para o desenvolvimento de uma base de evidências inclusiva e abrangente para apoiar a introdução de práticas MTCI efetivas e seguras nos sistemas nacionais de saúde, conforme considerado adequado por cada país. “Nesse processo, a TMGL irá desempenhar um papel fundamentar como um conduíte de conhecimento que faz a ponte entre o conhecimento tradicional, a evidência científica e a implementação prática desse conhecimento nos sistemas de saúde”, destacou João Paulo Souza, diretor da BIREME, sobre a aprovação do documento pelos Estados Membros.

Uma iniciativa-chave dentro da estratégia da OMS para a medicina tradicional, a TMGL conta com contribuição financeira direta da Índia e contribuições em espécie de diversos parceiros, incluindo os seis escritórios regionais da OMS, que participaram na definição do marco de priorização da pesquisa global em medicina tradicional. A biblioteca organiza, estrutura e fornece acesso à literatura científica e técnica externa, garantindo visibilidade para pesquisas de alta qualidade em MTCI em todo o mundo.

Esforços regionais da OPAS em MTCI e o papel da BIREME

Como parte de seus esforços mais amplos para fortalecer as medicinas tradicionais, complementares e integrativas nas Américas, a OPAS vem implementando ativamente iniciativas que complementam a TMGL e a missão da Biblioteca Virtual em Saúde MTCI das Américas (BVS MTCI Américas). Em 2024, a OPAS iniciou o desenvolvimento de perfis nacionais sobre MTCI, conforme destacado no Relatório Técnico 2024 do GTMC da OMS, fornecendo uma caracterização abrangente sobre como essas práticas estão integradas aos sistemas de saúde nacionais.

Paralelamente, a OPAS lançou uma estratégia para avaliar a qualidade dos serviços de saúde em unidades que incorporam MTCI, assegurando a padronização e identificando áreas de melhoria. A OPAS apoiou a implementação da ferramenta de condições essenciais (VCEm) na Bolívia e no Paraguai em 2024, avaliando como os padrões nacionais incorporam o respeito às condições socioculturais e garantem o acesso à informação para comunidades indígenas.

Como centro especializado da OPAS, a BIREME desempenha um papel fundamental no apoio a essas iniciativas, assegurando que as informações relevantes estejam acessíveis por meio da BVS MTCI e que o conhecimento gerado a partir desses esforços contribua para a base de conhecimento global da TMGL.

BVS MTCI Américas: Motor-chave no desenvolvimento da TMGL

Na concepção da TMGL, a OMS não apenas se inspirou na BVS MTCI Américas, como também aproveitou a expertise e as metodologias desenvolvidas por meio dessa BVS para construir a base da estrutura, curadoria de conteúdo e expansão de sua biblioteca global.

Desenvolvida pela BIREME, a BVS MTCI Américas serve como um modelo regional para a TMGL, demonstrando uma abordagem estruturada e baseada em evidências para a gestão do conhecimento em MTCI. No entanto, sua contribuição vai além de um modelo de referência — ela tem moldado ativamente o desenvolvimento da TMGL por meio de expertise especializada em curadoria de conteúdo, estruturação temática e expansão de bases de dados.

As principais contribuições dos especialistas da BVS MTCI Américas para a TMGL incluem o mapeamento de conteúdos essenciais para inclusão no portal, a curadoria de informações para garantir acesso estruturado, relevante e de alta qualidade a recursos sobre MTCI, e o desenvolvimento de uma estrutura temática para orientar a coleta de dados em bases e repositórios. Além disso, sua experiência tem contribuído para a expansão das bases de dados da TMGL, incluindo a curadoria de conteúdo de grandes eventos globais e o desenvolvimento de critérios de inclusão para os recursos da TMGL, assegurando rigor científico e confiabilidade dos materiais disponibilizados pela plataforma.

Refletindo sobre essa colaboração estratégica, João Paulo Souza, Diretor da BIREME, enfatizou sua importância institucional: “A colaboração com o GTMC para o desenvolvimento da TMGL representa um marco para a BIREME, pois fortalece nossa missão de ampliar o acesso à informação de qualidade para profissionais de saúde, formuladores de políticas públicas e o público em geral. Além disso, impulsiona inovações em nossos produtos e serviços, com potencial de aplicação em todo o nosso portfólio, e nos permite contribuir diretamente para o estabelecimento de uma entidade co-irmã da BIREME no âmbito da OMS, dado que o GTMC é um Centro Especializado da OMS na temática da Medicina Tradicional, assim como a BIREME o é em ciências da informação em saúde.”

Ao aproveitar a expertise, metodologias e conteúdos curados desenvolvidos por meio da BVS MTCI, a TMGL está posicionada para ampliar seu alcance global, garantindo que o conhecimento em medicina tradicional permaneça estruturado, acessível e impactante para profissionais, formuladores de políticas e pesquisadores em todo o mundo.

Acesso fortalecido ao conhecimento em medicina tradicional

A inclusão da TMGL e da BVS MTCI Américas no Relatório Anual do GTMC da OMS reforça sua importância estratégica para a medicina tradicional no contexto da saúde global. A BIREME, em parceria com a OMS e seus colaboradores globais, continua fortalecendo a infraestrutura de informação em MTCI, promovendo o acesso à evidência científica e apoiando a integração do conhecimento tradicional nos sistemas de saúde.

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  5. BVS MTCI Américas será modelo para o desenvolvimento da futura Biblioteca Global de Medicina Tradicional da OMS – Boletim BIREME/OPAS/OMS

A TMGL e a BVS MTCI Américas continuam a evoluir como referências globais no acesso ao conhecimento em medicina tradicional. Acompanhe as atualizações no Boletim BIREME para saber mais sobre os próximos avanços dessa iniciativa.

Fonte: https://boletin.bireme.org/pt/2025/05/30/tmgl-bvs-mtci-no-relatorio-anual-do-gtmc-oms/